segunda-feira, 8 de março de 2010

Morte de um governo “natimorto”?

O segundo governo de Maria do Carmo parece ter nascido sob o signo de Jason, aquele personagem da decalogia hollywoodiana “Sexta-feira, 13”: quando se pensa que o personagem morreu, ele ressurge das cinzas. Mas Jason, na verdade é um morto-vivo. Analogicamente, Maria não foge disso. Principalmente numa semana em que eventos díspares indicam que Maria vai do céu ao inferno em menos de um segundo, inclusive tendo que carregar cadáveres nas costas.

As águas de março – como cantou Tom Jobim – trouxeram paus e pedras para atingir a já baixa popularidade de um governo que só não é pior que o de Ana Júlia. Paus e pedras que deixaram dois mortos numa área interna do hospital municipal que deveria estar interditada. Maria puxou pra si a responsabilidade, numa atitude corajosa, porém inócua.

Qualquer manual de marqueteiro ensina que não se pode carregar cadáveres insepultos numa campanha eleitoral. A sorte de Maria é que a campanha que se aproxima é estadual e federal (mas o quanto isso poderá atingir o outro irmão médico, Lito Martins, que vai tentar um vôo federal?) e ainda está longe a próxima eleição municipal para se sentir os efeitos dessas mortes. Pelo menos em tese.

Mas não vai demorar a surgir a saraivada de discursos de seus opositores na Assembleia Legislativa, ao som de seu tucano mais peso-pesado (Alexandre Von) ou em Brasília, com o eterno desafeto, o demo-cipoalense Lira Maia, para lembrar todos da tragédia. Esta será explorada ao extremo, sem contar o, digamos, “fogo amigo”, que virá de seus colegas de Ministério Público imbuídos de investigar e responsabilizar a gestão municipal.

Mas a morte anunciada de um governo que tenta se reerguer dos escombros de um mini-terremoto de incompetência administrativa (o Haiti é aqui!), começou coincidentemente com a saída, do plano local, de sua figura mais ilustre: o todo-poderoso primeiro-irmão Everaldo Martins Filho, eminência parda de um governo que lhe deve a fundamental onipresença administrativa, ao mesmo tempo em que padeceu com ela desde o primeiro mandato.

Como já disse outras vezes, Everaldo podia ser considerado um “mal necessário” ao governo, já que tudo se movia a partir do movimento de seu polegar (para cima ou para baixo, como os imperadores de Roma, nas lutas de gladiadores no Coliseu). Sua última aparição pública foi justamente num evento do tipo pão e circo: durante o Carnalter, lá estava ele representando o governo no palco central com a sisudez de sempre e um sorriso pendurado nos lábios, diante do sucesso de um evento popular empanado em farinha. No outro lado da praça, uma desprevenida Maria do Carmo levava uma tacada de farinha no rosto de seu arqui-inimigo Lira Maia (prenúncio da tragédia que viria?)…

Considerado por muitos a arrogância em pessoa, Everaldo, nunca deixou de ser um técnico brilhante. Muitas das coisas que o governo fez de bom tiveram sua marca. E isso o credenciou a assumir a Casa Civil da quase moribunda Ana Júlia.

A dúvida que começou a pairar em alguns membros do governo era: o governo Maria II sobreviverá sem Everaldo? Ainda é cedo para dizer, mas com certeza, em momentos de crise como o atual, Maria vai se ressentir de uma opinião mais perspicaz. Coisa que o novo secretário de Planejamento, Emanuel Silva, não tem como fazer. Talvez a única coisa que ele tenha em comum com seu antecessor é a sisudez beirando a arrogância. E só.

Além do mais, ele era o secretário de saúde no primeiro governo e sua ex-esposa (Francimary Silva) a diretora do hospital que hoje está no olho do furacão. Não que eu queira culpá-los diretamente. A culpa pode ser creditada a eles e todos os que passaram pela direção, antes ou depois, neste e em outros governos. Para o azar de Maria, o teto caiu sobre sua cabeça. Ou melhor, sobre a cabeça de um ancião e de uma jovem, inocentes.

Ao puxar a responsabilidade para si, Maria fez um gesto suicida e livrou a cara de quem realmente deveria ser punido. Se um governo é descentralizado e tem tantas secretarias e coordenadorias, tantos cargos DAS, porque não ir a fundo, investigar e punir quem realmente pecou naquele setor? E como diria Dylan “Quantas mortes ainda serão necessárias, para que se saiba que já se matou demais?”

A tragédia do hospital não pode também ser usada para sacrificar os esforços de um governo que, na minha opinião, já nasceu morto. Os seis meses em que vagou como zumbi entre Santarém e Brasília, em busca de uma solução para um imbróglio eleitoral, que de certa forma lhe deu causa, foram maléficos para a sua gestão. E desde o retorno ao “trono”, Maria não conseguiu mostrar para o que veio. A cidade destruída pelas enchentes e a auto-estima da população lá embaixo (não fosse a campanha do São Raimundo, em nível nacional, estaria bem pior!), não viu qualquer mudança no quadro.

O ano de 2010 poderia ser considerado como o ano da redenção. Começou-se um movimento frágil para tentar tirar essa impressão. Um asfalto num grande trecho do centro, uma operação tapa-buracos ainda ineficaz, uma praça exuberante próximo ao Parque da Cidade e a precaução e o medo de que uma pedra rolasse de um morro na Matinha. Mas ninguém pensou que a pedra já estava rolando em cima de um telhado do hospital municipal!

O governo, mesmo titubeante, tomou uma atitude – ainda que atrasada – com relação à invasão do Juá. Mas poderia fazer mais: poderia aproveitar a deixa e por fim à especulação imobiliária de grandes grupos empresariais e de famílias tradicionais, que só emperram o progresso da cidade. Mas talvez, as alianças políticas sejam mais importantes do que a ocupação urbana e a preservação de áreas ambientais.

E quando o governo iniciava o lançamento de uma ousada campanha de ordenamento do centro e de combate à poluição sonora nessa mesma área, aquele telhado caiu e empanou o brilho do que poderia ser o verdadeiro início do governo Maria II.

Resta saber se Jason-Maria conseguirá, mais uma vez, ressurgir dos mortos e provar que não precisa da sombra do irmão para governar. Quem sabe imbuída dos bons fluídos deste dia 8 de março, seu dia internacional, Maria consiga reconstruir o telhado de seu governo.

Ninguém quer mais cadáveres insepultos em Santarém. E que me perdoem o infame trocadilho: mas será que já não é hora de se acelerar a inauguração do novo cemitério com seis mil túmulos, no Mararu?

por Jota Ninos (Jornalista)

Um comentário:

Luana Leão disse...

Eu gostei tanto do texto que ia te ctrl c + ctrl v. Na verdade, o Jota Ninos, autor desse texto.

Sinceramente Beto, ás vezes é vergonhoso morar aqui. Não pela beleza, pelo cheiro e pela cor da cidade. Mas pelo poder, que está nas mãos de poucos, tão poucos e sujos.
Não fazem nada, absolutamente nada em favor da comunidade e do progresso da cidade.
Eu que não nasci aqui, aprendi a ter amor por esta terrinha, me sinto triste quando paro pra observar a situação da nossa cidade. Imagino vocês!
Da buraqueira nem adianta mais falar, que nem como pauta de jornal rende mais, mas o aspecto visual, estético e higiênico da nossa cidade está jogado às traças (lê-se governantes porcos e sujos).
A saúde é precária, outro dia colegas de turma que atuam como repórteres apelidaram o nosso hospital municipal como "Iraque", de tão feio que é o negócio por lá. A educação, ouvimos cada história... e a população é quem fala. A mesma que elege!
Vai entender...
É angustiante pensar que as opções quase não se renovam para os eleitores.. sempre são as figurinhas repetidas. Por isso que eu sempre pensei que a reeleição é um incentivo ao roubo.

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